sexta-feira, 17 de junho de 2011

MINHAS HOMENAGENS


Federico Garcia Lorca


 O PÃO,  O AMOR E O COSMOS



Eu te agradeço por todas as pessoas que, por puro amor, fazem o pão.
Plantam na Terra o amor, são as imprescindíveis ditas por Brecht,
as que derramam o sal do suor sobre a terra e amam, que cuidam no cotidiano das plantas; da Natureza.  A noite, fazem o mesmo amor que fazem sob o sol e assim espalham-no sobre a terra e a torna fértil, fazendo brotar as flores que contém o polén que as abelhas necessitam,
aí temos as reminiscências do paraíso da terra que jorrava leite e mel.
Todas as coisas erguidas, construídas e conservadas: são frutos do amor.
São as vicissitudes da Criação e a lembrança do Paraíso.
Filhos de Deus; deuses somos,  e deuses habitam aqui.
Porisso agradeço o pão que está aqui nesta mesa de amor, e assim aprendo um pouco mais sobre o poder do amor.
Plantar uma semente. Amar sem hora certa,  com suor e com o sal da terra,  e ver o fruto aqui na minha frente sobre essa mesa, é o milagre. O mesmo cálcio nesse pão é semelhante ao cálcio contido nas partículas que chegam dos confins do Mundo.
Mas,  mais importante do que a Física são   os murmúrios que só o amor produz para fazer o pão sagrado.


Walker Lima
Candeias, 3 de janeiro de 2010.






Julio Cortázar




M I T O L O G I A



Lendas e estórias fabulosas
Deuses do mundo inteiro
Divindades do Sol e da Chuva
Deuses terrestres e marítimos
Amor, casamento e parto
O poder das aves e dos animais
Árvores e plantas
Fins e recomeços
Os amores divinos
Inferno e castigo.
Essas coisas todas nos levam a sentir a Vida,
principalmente nos momentos que sentimos nossos corações fora do lugar,
como se estivessem soltos como folhas de papel ao vento,
pulando num descompasso. São os momentos mais difíceis de existir porque não estamos amando,
fora do amor não há nada senão a dor.
Não há lendas, mitos e sonhos, nem antepassados,
nem continuidade, nem o fio  condutor que nos leva ao abrigo sombrio do amor.
Junto do conforto divino,
nós sentimos o caminho e o calor da pele do próximo
junto do amor
dentro do amor
sendo deuses do amor.


Walker Lima


Maria Farinha, 2 de abril de 2010.







Ernesto Sabato










Eu divido o meu pão de hoje para amanhã
poetiso minha manhã enquanto ouço o sôfrego,
barulho infernal dos mortos-vivos,
buscam a Deus aonde Ele não está.
Deixam "seus" pássaros nas gaiolas e saem para "trabalhar" sem amor.
Não levarei nada deste mundo, todavia as palavras que carregas consigo eu as coloquei com afinco em seu coração rudimentar cheio de pseudociências. Sou portanto o ghost-writer em busca das vertentes para melhor falar-te de amor, mas do mesmo modo que divido o pão, tenho que dividir o amor, senão pergunto: Como vou guardar o meu amor se o mundo anda na contramão? Dentro da microevolução?
Quero soltar o pássaro que se encontra preso por seu "amor" e comer o pão do nosso trabalho, amar o amanhecer do canto e prender quem rouba sentimentos não permitindo a Vida ir para o além.
Eu me alimento das letras, respiro as ideias e vejo o canto dos pássaros, me aficciono no labor,
invento o abstrato e resido nele.



 
Walker Lima



Olinda, 17 de junho de 2011.




Clarice Lispector























silêncio

segunda-feira, 13 de junho de 2011

A LIBERDADE

Após um tempo,
Aprendemos a diferença sutil
Entre segurar uma mão
E acorrentar uma alma,
E aprendemos
...Que o amor não significa deitar-se
E uma companhia não significa segurança
E começamos a aprender...
Que os beijos não são contratos
E os presentes não são promessas
E começamos a aceitar as derrotas
De cabeça levantada e os olhos abertos
Aprendemos a construir
Todos os seus caminhos de hoje,
Porque a terra amanhã
É demasiado incerta para planos...
E os futuros têm um forma de ficarem
Pela metade.
E depois de um tempo
Aprendemos que se for demasiado,
Até um calorzinho do sol queima.
Assim plantamos nosso próprio jardim
E decoramos nossa própria alma,
Em vez de esperarmos que alguém nos traga flores.
E aprendemos que realmente podemos aguentar,
Que somos realmente fortes,
Que valemos realmente a pena,
E aprendemos e aprendemos...
E em cada dia aprendemos.


Jorge Luís Borges



            Quando o assunto é  liberdade é  muito comum imediatamente pensar-se na liberdade de  ir e vir, entretanto, para compreendê-la é muito mais do que a simples locomoção física. Ou, como se tornou moda dizer-se: é uma calça velha e desbotada. E pronto!
            A liberdade também não se contém apenas no plano pensamental, vai além do abstrato, permita-me a redudância:  e muito além do campo da moral e do metafísico, vai além da própria consciência.
            Numa escala de valores,  das coisas que mais mexem e interessam ao ser humano, em primeiro lugar está a saúde, e imediatamente  a  liberdade. São estes os dois valores supremos  para  humanidade, queiramos ou não.
            Para entendermos seu significado precisamos reverberar as seguintes  palavras-chave que trazem em seu bojo o sentido de liberdade: amor, livre, salvo, independência, autodeterminação, vontade, autonomia, livre arbítrio, justiça, facilidade, bondade, virtude, desembaraço, escolha, riqueza, dignidade,  proteção cidadania, permissão, licença, virtude, concessão, confiança, divergência, imunidade, soberania, direitos, legitimidade,  legalidade, franquia, diversidade, desobrigação, pós-conceito, capacidade, alcance, familiaridade, garantias, soltura, anistia, alvará, álibi, etc. etc.
            Precisamos refletir no sentido oposto à liberdade: desamor, escravidão, servidão, vassalagem, cativeiro, privação, sujeição, submissão, jugo, injustiça, opressão,  maldade, arbítrio, proibição, empecilho,  limites, condicionamento, pobreza, imposição,  miséria, ignorância, superstição, censura, obediência, regras, coerção, obrigação,  ilegitimidade, entrave,  ilegalidade,  infração, repressão, obstáculo, impedimento, constragimento,  pré-conceito,  descriminação,  restrição, tirania, determinismo, ditadura, unanimidade, vigilância, pecado, estranheza, punição, liberticídio, etc. etc.
            Palavra que ninguém explica, mas que todos entendem,  como bem disse a poetisa Cecília Meireles.



A liberdade é um dos dons mais preciosos que o céu deu aos homens. Nada a iguala, nem os tesouros que a terra encerra no seu seio, nem os que o mar guarda nos seus abismos. Pela liberdade, tanto quanto pela honra, pode e deve aventurar-se a nossa vida.
Miguel Cervantes



               Para prosseguir com o tema tão "exaurido" pela literatura em geral, gostaria que fosse feita a seguinte reflexão: Você já pensou em quem nasceu para voar e não pode voar?!? A exemplo de um pássaro que vive preso dentro de uma gaiola?!? De um homem que vive cheio de ideias, e porque não dizer; que vive livre, e tem que viver com uma Carteira de Trabalho assinada ?!? Provavelmente a CTPS de hoje é a Carta de Alforria de ontem.
               Este tema está entrelaçado com praticamente tudo que existe. Principalmente como encará-lo sem a ótica da: Religião; da Filosofia; da Economia; da História; da Sociologia; da História da Arte e do mundo Jurídico?
               A Religião dentre os processos sociais é o que mais perdura na História, significa dizer que as diversas religiões existentes tem trajetórias de milênios. E do ponto de vista religioso o que representa a liberdade?  Para o cristão, por exemplo, o próprio nome Jesus significa "aquele que liberta".
               Como conceber a liberdade como algo individual? Ou seja, depende apenas do "foro íntimo" de cada um? Como tão clara definição: "A liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo." determinou Fernando Pessoa.
              Então, tem a liberdade aqulele que a exerce sozinho? Trata-se portanto de algo puramente no plano pensamental, ou ao contrário, depende de tudo e de todos?  A chamada liberdade metafísica, interior ou subjetiva, é confundida muitas vezes com a liberdade individual.  Ou em justaposição: é algo conjuntural, de natureza social. Em suma, de que adianta ser livre,  da cabeça pra dentro,  se lá fora você não é livre?!? Ou vice-versa.



A prisão não são as grades, e a liberdade não é a rua; existem homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência.
Mahatma Gandhi



             Atualmente tem sido sintetizado que "educar é estabelecer os limites". Ao mesmo passo, o caos conceitual  é generalizado quando confunde-se: liberdade com anarquia; liberdade com desordem; liberdade com consumismo, etc. etc. 
            Quais as origens da liberdade moderna?  É um assunto que remonta a própria História anglo-francesa, e não é este o nosso enfoque.
            Por outro lado, sem a troca de ideias não há progresso do pensamento humano, quer dizer, a transmissão pela palavra, escrita, ou por quaisquer meios de comunicação é fundamental para evolução, palavra prima legítima da Liberdade.
             Mas o significado exato é...



Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância.
Simone de Beauvoir




" Nós temos sempre necessidade de pertencer à alguma coisa; e a liberdade plena seria a de não pertencer a coisa nenhuma. Mas como é que se pode não pertencer à língua que se aprendeu, à língua com que se comunica, e neste caso, a língua com que se escreve?

Se o leitor, o leitor de livros; aquele que gosta de ler, não se limitar àquilo que se faz agora, se ele andar pra traz e começar do princípio, e poder ler os primitivos e os grandes cronistas e depois os grandes poetas, a língua passa a ser algo mais que um mero instrumento de comunicação, transformando-se numa mina inesgotável de beleza e valor."
José Saramago



Acordei hoje com tal nostalgia de ser feliz. Eu nunca fui livre na minha vida inteira. Por dentro eu sempre me persegui. Eu me tornei intolerável para mim mesma. Vivo numa dualidade dilacerante. Eu tenho uma aparente liberdade mas estou presa dentro de mim.
Clarice Lispector




Para meu coração basta teu peito
para tua liberdade bastam minhas asas.
Desde minha boca chegará até o céu
o que estava dormindo sobre tua alma.

E em ti a ilusão de cada dia.

Chegas como o sereno às corolas.
Escavas o horizonte com tua ausência
Eternamente em fuga como a onda.

Eu disse que cantavas no vento

como os pinheiros e como os hastes.
Como eles és alta e taciturna.
e entristeces prontamente, como uma viagem.

Acolhedora como um velho caminho.

Te povoa ecos e vozes nostálgicas.
eu despertei e as vezes emigram e fogem
pássaros que dormiam em tua alma.
                                                                       Pablo Neruda


"Estremeço de prazer por entre a novidade de usar palavras que formam intenso matagal. Luto por conquistar mais profundamente a minha liberdade de sensações e pensamentos, sem nenhum sentido utilitário: sou sozinha, eu e minha liberdade.
É tamanha a liberdade que pode escandalizar um primitivo, mas sei que não te escandalizas com a plenitude que consigo e que é sem fronteiras perceptíveis.
Esta minha capacidade de viver o que é redondo e amplo - cerco-me por plantas carnívoras e animais legendários, tudo banhado pela tosca e esquerda luz de um sexo mítico.
Vou adiante de modo intuitivo e sem procurar uma idéia: sou orgânica. E não me indago sobre os meus motivos. Mergulho na quase dor de uma intensa alegria – e para me enfeitar nascem entre os meus cabelos folhas e ramagens"...
Clarice Lispector


"Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.


Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.


Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado."
Rubem Alves


                             

Sou um homem livre – e preciso da minha liberdade. Preciso estar
sozinho. Preciso meditar na minha vergonha e no desespero em retiro;
preciso da luz do sol e das pedras do calçamento das ruas sem
companheiros, sem conversação, frente a frente comigo, apenas com a
música do meu coração como companhia. Que querem vocês de mim? Quando
tenho algo a dizer, ponho-o em letra de forma. Quando tenho algo a dar,
dou-o. Sua curiosidade indiscreta faz virar meu estômago! Seus
cumprimentos humilham-me! Seu chá envenena-me! Nada devo a ninguém.
Seria responsável somente perante Deus – se Ele existisse!
Henry Miller




Não é necessário sair de casa.
Permaneça em sua mesa e ouça.
Não apenas ouça, mas espere.
Não apenas espere, mas fique sozinho em silêncio.
Então o mundo se apresentará desmascarado.
Em êxtase, se dobrará sobre os seus pés.







sexta-feira, 10 de junho de 2011

O MAPA

           Muito antes de toda civilização ter seus primórdios, há muito tempo mesmo,  quando  nem sequer haviam  vestígios da História. Quanto mais se pensar em escrita! Nada,  absolutamente nada  existia em termos  dos caminhos a serem trilhados pela Humanidade...
           Misticamente recebí todas as informações daquilo tudo que haveria de ocorrer, tudo veio barossensível e  de alhures... Fiquei alucinótico ao me deparar, há milêncios atrás,  diante da seguinte distribuição de povos que haveriam de habitar a futura "América" ou  o chamado  "Novo Mundo". Conseguí com muita acuidade, modéstia a parte,  colocar em ordem; do norte para o sul, a  tal distribuição:




"Estamos próximos mas estamos há uma distância incomensurável, estamos próximos mas estamos sós"
Ernesto Sabato




          Preciso mostrar mais de perto:



Eu não evoluo, sou. Eu não procuro, descubro.
Pablo Picasso


     

            Muito tempo depois, após o surgimento da História através da escrita. Após a Idade Antiga, e após o transcorrer a Idade Média. E ao chegar a Idade Moderna...  exatamente em 1480 DC o mundo foi dividido, entre duas potências,  pela primeira vez,  através do Tratado de Toledo, criava-se dois hemisférios, ao norte: espanhol, e ao sul: português. Foi muita história a "medição"... sobretudo porque quando se jogava qualquer objeto a partir dos Açores,   da marca pretendida (pela Espanha) de 100 léguas a oeste, tal objeto  só caía em pleno Oceano Atlântico! Finalmente, sem a participação do papa espanhol à época(Alexandre VI), foi assinado em 1494 o Tratado, na cidade de Tordesilhas, dessa forma Portugal  impôs 370 léguas a  oeste de Cabo Verde, e desta feita ficou com o domínio exclusivo de ambas as margens do Atlântico incorporando um Brasil que só seria "descoberto" seis anos depois.  Estabeleceu-se as bases do Império luso-afro-brasileiro. Ficaram de fora da tal "divisão":  França, Inglaterra, Holanda, e outros importantes  países à época. Fato é que "dividiram o mundo ao meio" literalmente, naquilo que ficou vulgarmente conhecido como o "Testamento de Adão"...
            Antigos povos habitavam "Pindorama" como se chamava o Brasil antes disso tudo,  e ao invés, de terem chamado os nativos habitantes por suas originais denominações, não, passaram a chamá-los de "índios" justificando essa nomenclatura sob a falsa fundamentação que por ocasião do "descobrimento" tinham achado as Índias, quando houvera o "desvio" da esquadra de Cabral devido a tempestades. 
            No dossiê recebido por mim em eras incontáveis... dentre a documentação, havia o seguinte mapa intitulado "O Inegociável":




Cinema-verdade? Prefiro o cinema-mentira. A mentira é sempre mais interessante do que a verdade.
Federico Fellini


            Em intermitentes ocasiões fiquei pensando na amoralidade daquilo tudo. Mesmo dentro da mística situação na qual me encontrava, ficava estarrecido com tamanha desventura de um povo, ou melhor, de vários povos, de tantos lugares. Então, eu tomaria uma espécie de batiscafo e mergulharia  na fundura possível para poder aquilatar aquela verdadeira turbação. O esbulho causado por navegantes estrangeiros vindos em massa. É bem certo que sempre, sempre, houveram diversos navegadores oriundos de  diferentes localidades: ora eram fenícios, ora eram escandinavos, mas ocorreu a vida inteira de estarem nessas terras e minha maior preocupação persiste até o dia de hoje, se resume à grande desvantagem em relação as mais belas mulheres nativas, e minha confusão foi tamanha que tive de fazer determinadas anotações em relação  ao realizado menoscabo :



Um livro é um grande cemitério onde, sobre a maioria dos túmulos, não se podem mais ler os nomes apagados.
Marcel Proust



            Fiquei embarcado numa embaraçosa elucubração, não saía do meu pensamento a turbação, aquilo me feria e me magoava, precisava de um medicativo, mas como procederia se não tinha medicomania... e no meu estranho pensamental vinham os instrumentos; não médicos, mas náuticos de navegação: Quadrantes, Oitantes, Grafômetros, Astrolábios, Balestilhas e uma parafernália circudavam minha mente sem parar. Minha honestidade ficava embananada. Amainava meu imaginário a justaposição ao refletir naquelas lindas mulheres...persuasivo  projetava-as cinco séculos a frente:




Se o veneno, a paixão, o estupro, a punhalada
Não bordaram ainda com desenhos finos
A trama vã de nossos míseros destinos,
É que nossa alma arriscou pouco ou quase nada.
Charles Baudelaire
          
            Minha honorabilidade estava sendo provada, a libidinização já alcançava um processo sem antecedentes na minha instância mais íntima. Abordava a conjuntura, me ardia envolto a tantas questões, questionava em voz alta: O que poderei fazer?!? 
             Partí então para fazer um exercício de mimese, passei a mineralizar nomes...os nomes das importantes mulheres, fiz o exercício de garimpagem na memória eloquente e profunda, na verdade não conseguiria  jamás  esquecer os originais nomes delas, senão vejamos:



Toda coerência é, no mínimo, suspeita.
Nelson Rodrigues

            Sofrí uma verdadeira parbolização, resultei sem minhas melhores qualidades pensamentais. Destarte, o que poderia fazer? Faria paréctase?!? Ou dizendo em miúdos: encheria a linguiça com quê? Como procederia axiologicamente falando a respeito de tamanha obstinação em relação às mulheres? As mais belas mulheres do mundo, seriam alí forjadas naquela história inúmeras vezes posteriormente contadas por respeitáveis contigentes de:  historiadores, sociólogos e antropólogos...enquanto eu  apenas delirava:



"Assovia o vento dentro de mim.
Estou despido. Dono de nada, dono de ninguém, nem mesmo dono de minhas certezas, sou minha cara contra o vento, a contravento, e sou o vento que bate em minha cara."
Eduardo Galeano

            No fundo no fundo minha paura e o meu ciúme iam  muito além das belezas físicas  desfeitas e de todo patrimônio estético-cultural para sempre invadido a partir daquela contemporização, equivale dizer, com a invasão em massa dos colonizadores europeus, tendo ainda havido o disparate de terem mandado para sua colônia o que havia de pior na metrópole; em termos de "gente",  através da pena de degredo.
              Fiquei desgostoso com a História porquanto nunca conhecí as mulheres na sua naturalidade , vivendo conjuntamente com a Natureza, há quem fale que isto não passa de Romantismo, pois então sou romântico.  Ou fiquei após a prematura revelação supra  mencionada, mas é bem verdade que minha única e exclusiva preocupação seria preservar as lindas mulheres do arquétipo consciente que trago em mim agora.
             Mas algo que me apraz até hoje entre as mulheres, talvez somente existente na literatura...é o amor de Penélope por Ulisses, no tocante à espera dela por seu grande amor...Mas você há de perguntar o que tem isso a ver? Respondo-lhe: esse é o aspecto do sentimento  verdadeiro mais desejado por um homem.  E a História impossibilitou de sentirmos isso para todo sempre. Como bem disse James Joyce: "A História é um pesadelo de que tento acordar".



Nunca tive os olhos tão claros e o sorriso em tanta loucura. Sinto-me toda igual às árvores: solítária, perfeita e pura
Cecília Meireles




O que será ser só
Quando outro dia amanhecer?
Será recomeçar?
Será ser livre sem querer?
Chico Buarque


terça-feira, 7 de junho de 2011

TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA ?

"A arte é a expressão da mente, nossa vida é nossa arte".
John Lennon



          Tenho a ubiquidade de estar em muitos corpos, e para que não paire quaisquer dúvidas, corpos femininos. Eu mesmo plasmei os lindos corpos ao reter na  memória mais profunda, estabelecí comigo próprio que essas imagens reais prosseguiriam inerentes, inclusive, para qualquer destino que a mim fosse dado. Poderiam até mesmo  tornarem-se cinzas, eu não sei como será. Porém elas me servem como bálsamo que foi exudado por flores e orquídeas das mais belas que meus próprios olhos presenciaram. Posso dizer, com tranquilidade, que ao me transformar da vida quem sabe para a morte, levarei comigo:  a imagem, o perfume, os sons emitidos e toda heterodoxia possível e imaginável. Meu périplo com tantas imagens guardadas em escaninhos que só eu sei, entretanto compartilho neste momento, ao ponto de vos conduzir até uma ideia mais nítida do que exatamente quero transmitir.



A poesia dos poetas que sofreram é doce e terna. 
E a dos outros, dos que de nada foram privados, é ardente, sofredora e rebelde.
Clarice Lispector



          A autotransformação que trago agora, após tanto tempo decorrido, para externar esses sentimentos em relação à beleza que ví, por várias vezes. É bem verdade, não acredito que o que vivi, seja algo comum, quero dizer, para qualquer um. Ora, eu fui agraciado... eu ví a beleza da  Criação. Por gentileza, não pensem apenas nos corpos nús que ví; por acaso vocês já viram um corpo andando sem cabeça?  Ou sem coração? Insisto, vocês já viram algum corpo que andasse sem pensamento? Um corpo andando sem pernas?



"Faço análise há trinta anos e a única frase inteligente que já ouvi do meu analista é a de que preciso de tratamento".
Woody Allen


           Me digam: É possível vocês fazerem andar,  aqueles que não querem andar? Adianta, por acaso, vocês empurrarem aqueles que não querem andar?!?



Minha saúde mental é perfeita, eu não evito o amor nunca.
Leila Diniz



A liberdade leva à desordem, a desordem à repressão, e a repressão novamente à liberdade.
Honoré de Balzac



           Eu ví as pétalas róseas entreabertas, ouví grunhidos de ais e suspiros quase mortais, sentí latejamentos, dormí respirando boca a boca o háilto vital, segurei nas belezas e tomei seu caldo; o sumo e o mel vindos de profundos outros abismos de deleite, de espasmos, de loucuras, entre choros, em meio a gemidos, resfôlegos, tremores. Fui fundo e agarrei cabelos e os retorci; puxei-os, e me esquecí de quantas vezes vislumbrei, para não dizer que delirei, e não foi pouco, ao resplandecer das alvoradas vindas das luzes dos  cabelos vistos. Me perdí no tempo e no espaço atrás dos mais belos cabelos, eu sempre imóvel.



A cama é um móvel metafísico.
Nelson Rodrigues



          Quebrei camas, fizemos tudo aquilo que o espaço da alcova ficou metafísico.  O Kama Sutra... perde!!! Enxerguei olhos, íris, me ví tantas vezes em retinas  recém lacrimejadas . Observei as tatuagens dadas por Deus ao esculpir as tez, peles sem palavras... Pesquisei sentimentos, estudei modos, maneiras de estar, verifiquei de perto psicologias, peguei  almas, analisei peculiaridades.  Fui cardiologista ao mexer com corações, usei o bisturí e fiz cirurgias quiméricas.  Ousei tantas deserções. Me resignei por vezes. Furioso fui dissecando contenciosas situações de impasses. Conseguí  a tanatoscopia de seres vivos, assim ressuscitei gente que estava no túmulo da Vida. Fiz a teofania, a liturgia e a telúrica arte de amar.



Tive a sensação de vislumbrar a dimensão do Mundo
quando experimentei ver pelos teus olhos
Joana D'Arc



          Também não sou pretencioso querendo a emulação do  quer que seja, se por acaso estou abrindo um pouco do que há no meu escaninho guardado há sete chaves nas profunidades oceânicas do meu ser, tenham a convicção: É por puro amor à arte, e nada mais.



Não sei se sou autoritário. 
Durante as filmagens, sou decerto uma pessoa diferente, sem tempo para delicadezas. 
Mas será que, numa operação, o cirurgião diz: poderia me passar o bisturi, por favor? 
Muito obrigado. Claro que não. Ele só diz: bisturi!
Roman Polanski