terça-feira, 24 de maio de 2011

VERSOS DE MAIO - A METAFÍSICA DO AMOR


          Não  há reminiscências, estou cheio de ideias, busco todo instante te ver, na introspecção olhar por frestas do pensamento, te buscar, ir ao teu encontro. Não paro, não consigo deixar de pensar em você. Eu te quero metafisicar, eu te busco como o mar busca o sonhador, quero te seguir pelo caminho da metalinguagem e sei que vou te achar.



          Passo todo tempo como um náugrafo lançando mensagens dentro de velhas garrafas, intermitentemente te busco. É bom pensar em ti, me acalanta e me aquece o que sinto por você, admiração e amizade de amor  nutrem as frases que tenho pra ti, o vento sopra a meu favor e  me aquecendo  conduz à sua pessoa. A distância é nada diante do sentimento, faço e refaço e a busca prossegue, remoer você na mente e te ver inteira, às vezes fragmentos caleidoscópicos me retraem a transfiguração... daí  invento uma montanha e te procuro e sei que queres ir ao longe comigo, lá bem alto estaremos, contanto que eu possa fixar a visão no brilho infinito dos teus cabelos, meu coração possa  bater sem medo por ti e minha loucura dançar, movimentar a  cor da nuvem do destino, sem pecados.




Eis que se delineiam dois amores em fusão, a homopolaridade acontece, nossa geminação torna-se fato.  Vou e percebo a dor das minhas promessas de amor, são dois sim na nossa psicobiológica sensação. Nunca  poderia estar  amando sozinho, o amor nunca está só, sinto que a mim tu pertence,  com seu estilo floricoroado.  Sei que você quer morar comigo e dançar as danças que nem sei;  invólucro em seus sorrisos e seus vestidos;  cabelos batendo na tarde nunca tardam a rodopiarmos, dançamos sempre minha querida e seu rubor dos lábios brilham meu pensamento da cor do teu coração. Não estou louco, sei muito bem, talvez nem sequer conversamos,  muito embora a cromoplastofonia fala mais alto ao meu imaginário, canta muito mais alto um sabor de amor, isso não importa porque tu e os pássaros me compreendem: voos e razantes  mostram as cores do pavão. Na translucidez conduzo as emissões de sentir tal qual "transponder" dentro da poeira cósmica, ademais jorro sentires, vou além, cruzo física e metafísica, removo montanhas e chego a ti minha amada, te acaricio, te reconheço, subo e desço teu corpo, cometo virtudes.



          Me vejo tomando chá contigo em tradicional xícara, fragmento que resta de algo não extinto, e não paranóicos ficamos a sós, ouvimos músicas entrepassadas nas noites entreabertas, em nossa janela vemos mensagens das brisas, ouvimos luzes, acreditamos no cheiro do nosso mistério, cavalgamos sob o escuro  do piano e o saxofone acompanhados de uma Gibson ao fundo percussivo.  Acreditamos que nossa manhã será acordada pelo "fumus" do café e ressentimos tudo na remoedura, que te procuro sempre na entrada-de-baile, que sou apaixonado, que a manhã é nacional, que o dia é brasileiro e virá alguém só-amor que nos dará uma mão, que nos apoiará e do nada afagará nosso encontro de paixão e procura sem ilusão.



          Nosso fundo de poço não é vazio. Nós não queremos saber das alianças de ouro encravadas com nossas vidas encadeadas por passeios  sós, queremos lembrar a noite bem  funda em nossas portas: olhos, ouvidos, nariz, boca..        Falarmos da esperança de nosso povo, nos engajarmos em marchas e demarchas juntos,  e fazermos arte.    



                
           Para nós, a cidade e as ruas das marés donde  as pedras tem pulmões, o asfalto é coberto de veludo e carros andam em solenidade.  Nossas árvores não são estrangeiras: são de sonhos, são árvores que tagarelam acordadas em sombras esquecidas por nossos sorrisos mágicos. Sempre vemos juntos o  beija-flor. Subimos e descemos ladeiras de mãos dadas e conversamos nos bancos da praça, muito embora estejamos distantes no espaço e no tempo, mas isso não impede nosso amor porque quando você vai embora nunca se desloca.  Nós não precisamos de: fotos; bússolas; astrolábios, de velhos e novos escritos, muito menos velhos cinzentos jornais, só queremos a voz da lua, a régua e o compasso de um bom vinho para brindarmos novos conceitos, para a espuma do mar sombrear a beleza de nossos corpos, nossa tez refletindo o azul eterno, sobre nossas confluências, sobre nosso pranto, sobre tudo aquilo que nos entrelaça como macho e fêmea, revestidos em lágrimas.
          Nosso sublime amor não precisa de tanta palavras, de cotidianos da dipersão mundana. Só precisa dos nossos entes queridos em volta e a boa companhia dos melhores amigos, para rimos juntos, precisamos constatar a genialidade porisso precisamos das boas conversas.




          Andarmos pelo mato e conseguirmos enxergar o perfume de uma flor de maracujá. Não tocamos as orquídeas, sentimos a liturgia dos seres vivos.
          Nossa casa é muito confortável, é gostoso estar lá, em nosso castelo cujas pilastras em hexastilo são feitas de livros, o jardim sempre a caminho do amanhã, onde vamos envelhecermos juntos, cheios de boas notícias trazidas por crianças entrando e saindo todos os dias pelas portas abertas da nossa alcova de puro amor, de noites inesquecíveis.
          Meu amor, sei que nem sequer, talvez, tenhámos olhado demoradamente  um para outro, mas nossa plenitude é  de verdade, não precisa das grosserias, dos desgastes, nós também não temos esse blá blá blá de  platônicos.  Somos memória, somos corpos presentes atemporais, sentimos  nosso acalanto, perdoamos e cometemos as loucuras dos apaixonados. Não precisamos falar de fidelidade; de quem está com quem, não precisamos de nada disso. Somos certeza, somos nossas bagagens maduras, cheias de Vida, e as candeias diante dos nossos passos veem do além. . .



Olinda, 18 de maio de 2011



Há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência."
Pablo Neruda

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